Moda + Arte(sanato)
A Moda com sotaque

Sempre acreditei no sotaque da moda mineira e esse sotaque pode ser acentuado através do artesanato. Estou falando aqui daquele artesanato que, de tão bom, pode dispensar o “sanato” e ficar só na “arte”.

A Sra. Minas Gerais é a mãe de 853 filhos e cada um deles é único. E essas especificidades podem ser varridas pelo tempo, se não nos apropriarmos desse nosso patrimônio. A moda nasceu das mãos dos artesãos e mestres de ofícios talentosos no mundo. Sua história está intimamente relacionada a evolução as artes e ofícios.

Dentro dessa perspectiva a moda cumpre um papel de catalisador de nossa identidade cultural. É preciso validar a moda como símbolo cultural, que traz a transversalidade e que dialoga com diversos setores da economia, artes, folclore, designer.
Moda é Economia, Turismo, Negócio, Entretenimento, e claro, é Cultura.
Por isso o artesanato, que é impregnado de cultura, além de traduzir nossos costumes, ganha destaque no cenário da moda mineira.

É o nosso jeitim atulhado de sapiências!

A moda de Minas representa muito bem essa ligação histórica, apresenta características marcantes do saber intrínseco dos mineiros, o saber fazer dos nossos artesãos. O que ela precisa é assumir sua essência e revitalizar o seu produto. Ela pode e deve se reconectar com seus artesãos para o desenvolvimento de um produto com propósito e com conteúdo. É uma forma de se desvencilhar da dura realidade da indústria da moda atual, com a sua dinâmica “pasteurizadora” com as pressões continuas de preço baixo, velocidade e alta produtividade. Esse é um desafio possível dentro de Minas Gerais, pois está em nossa natureza a relação com o tempo e com a dedicação.

Um amigo estilista me citou Léon Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. A minha aldeia é cheiro de curral, é curva e esquina, é Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Quando ouvi isso, a minha tese ficou mais clara e apropriada.

É fácil reconhecer o valor do artesanato nas crenças e valores de uma cultura.
É um espelho.
Uma marca.
Registro digital.

O mercado de moda tem o estereótipo de ser glamoroso, criando assim uma nódoa de afastamento do cotidiano das pessoas. Resta então a valorização com a inteligência competitiva.

Quero criar uma arapuca para prender o arte(sanato) à moda.

Linha, alinhavo e a costura, a trama, o pigmento, a costureira, a bordadeira, o mascate, a venda da rua.

Tecidos com tramas e suspenses, fios das rocas e teares mineiros.

As costureiras e bordadeiras ociosas esperando o bonde e a banda passar.

E Seu Zé?

Com seu canivete pode fazer um botão do chifre da descorna do gado.

Mestres de artes e ofícios, sedentos de transmitir seu conhecimento aos poetas aprendizes.

A arte do couro na selaria em calçados e bolsas.

Os traçados dos tetos, das cestas, num emaranhado de fibras nos acessórios.

Madeira, palha, tecidos, crochê, esculturas, argila, ferro, lapidações, fundição, gemas, tudo na eternidade da maça e da moda.

“Se me fosse dado escolher no amontoado dos livros que serão publicados cem anos após a minha morte, sabe o que eu escolheria? Eu escolheria tranquilamente, meu amigo, uma revista de moda para ver como as mulheres estarão vestidas um século após meu falecimento. E estes pedacinhos de tecido me diriam mais sobre a humanidade futura do que todos os filósofos, romancistas, regadores e sábios”. Fala Anatole France.

Essa prosa é longa, aguçada e açucarada, servida com esse mexido de Moda com Arte(sanato).

Vamo chega!

Giovanna Penido

Em tempo: Era para ser um artigo, mas acho que acabei de escrever uma declaração de amor ♥

Confira aqui a entrevista feita pelo Sebrae com Giovanna sobre moda e artesanato.